Aulas de ensino fundamental em cursos à distância pelo computador
Em 1972, Francisco Carlos Cunha da Silva, de 53 anos, saiu da escola em que estudava para não voltar mais. Decidiu trabalhar, casou e teve filhos. Quarenta anos depois de ter abandonado a sala de aula, resolveu que era hora de recomeçar. Mas o retorno será de um jeito diferente. Francisco faz parte de uma turma experimental de 50 alunos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) à distância.
Eles terminarão o ensino fundamental estudando por uma plataforma disponibilizada na internet pela Secretaria municipal de Educação. O curso começa no dia 28. Em três meses, o grupo completará o 9 ano e poderá seguir para o ensino médio.
— Sempre sonhei com isso — diz Francisco, que escreve letras de samba e almeja ter uma composição cantada por Zeca Pagodinho.
Estudo sem horário fixo
Mas foi a profissão que fez Francisco optar pelo programa. Ele é ourives e não tem um horário fixo de trabalho:
— Seria difícil frequentar aulas numa escola regular.
O EJA à distância pode ser uma alternativa para pessoas como ele, com 18 anos ou mais. Segundo o IBGE, das cerca de 8 milhões de pessoas que passaram por projetos de EJA antes de 2007 no país, 42% não concluíram o curso. O principal motivo apontado foi a incompatibilidade de horários para estudar.
O colégio virtual permitirá mais flexibilidade, mas exigirá disciplina. A dedicação diária dos alunos deve ser de duas a três horas de estudo. As dúvidas poderão ser esclarecidas por professores, por meio de e-mail, de um fórum de discussões, por telefone ou até mesmo pessoalmente. Ao completarem as aulas de uma matéria, os estudantes farão uma prova presencial.
O objetivo do projeto é atingir quem está bem próximo de terminar o ensino fundamental. Caso a iniciativa funcione, o curso pode ser expandido. Na rede municipal do Rio, o EJA já existe na modalidade presencial — com quatro horas de aulas diárias — e na modalidade semipresencial — com duas horas de aulas diárias, além de atividades à distância.
— A ideia é oferecer diferentes possibilidades — diz Flora Prata, gerente do Ensino de Jovens e Adultos.
‘Vou colocar o diploma em um quadro’
Se Francisco abandonou a escola para trabalhar, Ivone parou os estudos por causa de um problema de saúde, e Silvana para cuidar dos filhos. Como o colega, as duas também acharam que era o momento de se tornarem alunas novamente.
Ivone de Andrade Amitrano, de 57 anos, confessa que sentia insegurança de en$uma sala de aula. Ela queria voltar a estudar, mas tinha bastante receio. As aulas pela internet podem ser o primeiro passo para seu reencontro com a escola.
— Tenho que enfrentar e conseguir. Na hora de estudar, vou fazer de conta que o professor foi à minha casa. Durante aquela hora, vou esquecer do mundo — diz ela.
Além das aulas das disciplinas regulares disponíveis no computador, serão oferecidas aulas presenciais aos sábados. Elas abordarão diferentes temas da atualidade. Ao longo de um trimestre, o aluno deverá participar de pelo menos uma aula.
Atualmente sem trabalhar, Silvana da Silva Santos, de 30 anos, não tem problema $conciliar aulas e emprego. Mas, com três filhos, o desafio dela será cuidar das crianças e estudar.
— Deixei de ser a Silvana para ser só mãe. Agora decidi retomar a minha vida. Já botei muitos diplomas em quadros, agora vou colocar o meu — afirma Silvana, que trabalhava com molduras em seu antigo emprego.
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